Corpo do cantor Belchior é sepultado em Fortaleza

Cantor Belchior marcou a música no Brasil nos últimos 40 anos

O corpo do cantor Belchior foi sepultado no cemitério Parque da Paz, em Fortaleza, por volta das 10 horas da manhã desta terça-feira (2.5). Familiares, como irmãos e sobrinhos, participaram da cerimônia, que inicialmente fechada aos parentes, acabou contando também com a presença de alguns fãs. Muito emocionada, a mulher de Belchior, Edna Prometheu, foi amparada em cadeira de rodas.

Mais de 8 mil pessoas se despediram de Belchior nas 24 horas em que o corpo foi velado no Teatro São João, em Sobral, cidade natal do cantor, e no hall do teatro do Centro Cultural Dragão do Mar, no bairro Praia de Iracema, em Fortaleza, entre as 8 horas de segunda-feira (1.5) até cerca de 7h desta terça (2.5).

Após a missa de corpo presente, que começou por volta das 7h, o corpo foi levado em um carro do corpo de Bombeiros ao cemitério. A missa foi celebrada no palco do anfiteatro do Centro Cultural, enquanto o público fazia orações na arquibancada. Um grupo de amigos de Belchior, músicos cearenses, fez uma última homenagem ao cantor cantando suas canções.

Morte

Belchior foi encontrado morto em casa no último domingo (30.4), na cidade de Santa Cruz do Sul (RS), aos 70 anos. Ele vivia na cidade de 126 mil habitantes do Vale do Rio Pardo, a cerca de 150 km de Porto Alegre, com a mulher, que o encontrou morto. Ela disse à polícia que Belchior não tinha problemas nem tomava medicamentos. Ele se sentiu mal na noite de sábado (29.4), se queixou de muito frio à esposa e disse que ia descansar no sofá da sala, que ele usava para fazer suas composições, segundo vizinhos.

De acordo com amigos, o artista vivia há quatro anos em Santa Cruz do Sul – dos quais cerca de dois anos na casa onde morreu, cedida por um amigo. Belchior continuava compondo, embora não tivesse planos de fazer shows ou gravar discos, e traduzia suas canções e obra de Dante Alighieri. Análise preliminar indica que o cantor cearense morreu em razão do rompimento da artéria aorta, segundo a delegada Raquel Schneider.

 Vida e obra

Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes – “um dos maiores nomes da música popular”, como brincava ao se apresentar – nasceu em 26 de outubro de 1946 e foi um dos ícones mais enigmáticos da música popular no Brasil, com quase 40 anos de carreira. (veja no vídeo acima homenagens de artistas ao cantor)

Na infância no Ceará, Belchior estudou piano e música coral, e trabalhou no rádio em sua cidade natal. Seu pai tocava flauta e saxofone, e sua mãe cantava em coro de igreja. Mudou-se em 1962 para Fortaleza, onde estudou Filosofia e Humanidades. Também chegou a estudar medicina, mas abandonou o curso em 1971 para se dedicar à música.

Começou apresentando-se em festivais pelo Nordeste. Depois do sucesso de “Mucuripe”, mudou-se para São Paulo, onde compôs trilhas sonoras para filmes e passou a fazer shows maiores e aparições em programas de televisão. Em 1974, lançou seu primeiro disco, “A palo seco”, cuja música título se tornou sucesso nacional e ganhou versões ao longo da história, como a de Oswaldo Montenegro e da banda Los Hermanos.

Teve o primeiro sucesso nos anos 70 ao lado de Fagner, com a faixa “Mucuripe”. Com o disco “Alucinação” (1976), lançou clássicos como as faixas “Apenas um rapaz latino-americano”, “Velha roupa colorida” e “Como nossos pais”, essa última que se tornou conhecida na voz da cantora Elis Regina.

Em 1982, o cantor lançou “Paraíso”, que tem participações dos, àquela época ainda jovens artistas, Guilherme Arantes, Ednardo Nunes, Jorge Mautner e Arnaldo Antunes. Fundou sua própria gravadora e produtora, a Paraíso Discos, em 1983. Ao longo da carreira, Belchior teve mais de 20 discos lançados.

Paradeiro

Em 2007, a família reclamou do sumiço do artista, que abandonou a carreira, e nem mesmo seu produtor musical conseguia contato. A partir daí, foram surgindo boatos a respeito do paradeiro do cantor.

Segundo reportagem do Fantástico, Belchior abandonou ao menos dois carros, sem explicação. Um deles, deixado no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, acumulando milhares de reais em dívidas de estacionamento. Outro veículo, uma Mercedes-Benz do cantor, foi largado em um estacionamento também em São Paulo, onde ele morava antes de ir para o Uruguai.

Belchior chegou a ser procurado pela polícia em 2012, devido a uma dívida de US$ 15 mil em um hotel na cidade de Artigas, no Uruguai, por seis meses de diárias. No fim daquele ano, em meio à polêmica, foi visto em Porto Alegre, mas não quis gravar entrevista.