Música Calcanhoto une poesia do Brasil e Portugal em show

O laço mais forte entre Brasil e Portugal, a língua portuguesa, forma uma ponte na qual Adriana Calcanhotto verseja e proseia sobre música, identidade, história e poesia. Não à toa o show “A Mulher do Pau Brasil” é definido por ela como um “concerto-tese”, nascido entre as seculares salas da Universidade de Coimbra, onde Adriana passou dois anos entre cursos e apresentações, concluindo sua residência artística. Ela foi nomeada, em 2015, Embaixadora da Língua Portuguesa pela instituição lusitana.

Da experiência de estudar em Portugal, Adriana Calcanhoto idealizou um espetáculo centrado em letra e poesia

Da experiência de estudar em Portugal, Adriana Calcanhoto idealizou um espetáculo centrado em letra e poesia
A repercussão do show na Europa gerou uma turnê que já está circulando pelo Brasil e chegará a Natal na próxima sexta (12), às 21h, no Teatro Riachuelo. Adriana estará no palco acompanhada pelos músicos Bem Gil e Bruno Di Lullo, se alternando entre guitarra, mpc, piano e baixo. O repertório apresentará canções criadas no período lusitano, poemas musicados, releituras (a recente “As Caravanas”, de Chico Buarque, por exemplo) e também reencontra clássicos de seu repertório, como “Inverno”, “Vambora” e “Esquadros”.

“O show é justamente sobre o olhar para o Brasil de Coimbra. O período em Portugal ajudou muito a pensar a minha música e a pensar o Brasil também”, declarou ela, em entrevista ao VIVER. A seguir, a cantora falou um pouco mais sobre suas teses de som e poesia:

 “A Mulher do Pau Brasil” tem o mesmo nome de um show seu de 1986, quando você iniciava a carreira. Há algum tipo de relação? O show atual seria uma reinvenção do anterior?

A Mulher do Pau Brasil foi o título de um show que fiz em 1987 e onde já estavam todas as ideias que iriam me acompanhar ao longo da minha trajetória, como as ideias modernistas e antropofágicas. Quando eu resolvi fazer o concerto-tese, as ideias vieram por conta de eu estar em Coimbra pensando sobre o Brasil, sobre o Modernismo. Eu pensei que tudo era muito parecido com este show que tinha feito em 1987. E falei: “É a Mulher do Pau Brasil de novo!”.

Espetáculo é inspirado nos laços poéticos entre Brasil e Portugal

Espetáculo é inspirado nos laços poéticos entre Brasil e Portugal

Como está estruturada a apresentação. Cenário, figurino, repertório, tudo está interligado em que tipo de conceito?
As canções da primeira montagem da Mulher do Pau Brasil seguiram me acompanhando por toda a minha trajetória, como “Eu Sou Terrível”, “Geleia Geral”, enfim, várias delas foram se diluindo, aparecendo em shows e discos que fiz. Depois da estreia em Portugal, fomos desenvolvendo e o roteiro teve algumas modificações. Tem as músicas inéditas, como “A Mulher do Pau Brasil”, composta neste período em Coimbra, canto “Outra Vez”, da Isolda, que fez sucesso na voz de Roberto Carlos, “As Caravanas”, do Chico Buarque.

Você montou o show depois da experiência de morar em Portugal. De que forma você leva sua experiência na Universidade de Coimbra pra cima do palco? 
O show é justamente sobre o olhar para o Brasil de Coimbra. O período em Portugal ajudou muito a pensar a minha música e a pensar o Brasil também. A Universidade me pediu para que eu iniciasse as aulas a partir de canções que eu tinha escrito, entre sucessos, inéditas e outras que não ficaram conhecidas. Foi um período bem fértil. Fui pensando muito sobre o Brasil e sobre a minha própria música.

Muitos brasileiros têm ido morar em Portugal numa espécie de fuga dos problemas do Brasil. Viver lá fora te fez enxergar um outro Brasil? Que Brasil seria esse?

Eu me sinto cada vez mais brasileira porque sou brasileira e tenho passado muito tempo fora. Quanto mais tempo eu passo fora, mais eu me sinto brasileira. Ouvindo o rádio quando viajamos aprendemos a dar mais valor para as nossas coisas. A poesia veio através da Música Popular, que eu ouvia no rádio, quando tudo começou. Em relação ao cancioneiro brasileiro, nós somos muito folgados, mal acostumados. Não nascem gerações de gênios em outros países como acontece aqui. Ouvimos alta poesia na rádio popular. No estrangeiro, o sonho das pessoas nas férias é vir para o Brasil…

Fale um pouco de dois movimentos culturais importantíssimos, o Modernismo dos anos 20 e o Tropicalismo – inspirações para esse espetáculo novo. De que forma eles aparecem no seu trabalho?

Eu acho que sempre é importante olhar para trás no sentido de se aprender com a história. Em momentos como este, com o Brasil tão polarizado, com o Brasil não se reconhecendo, é ainda mais importante. As ideias modernistas, as ideias da poesia Pau Brasil e a Tropicália são movimentos de identidade do Brasil. Nesta hora fica mais importante ainda pensar o Brasil por essas lentes.

O show apresenta reencontros com os sucessos  Inverno, Vambora e Esquadros

O show apresenta reencontros com os sucessos Inverno, Vambora e Esquadros

O repertório do espetáculo apresenta músicas feitas em cima de poemas de Gregório de Matos, Emily Dickinson, Augusto Caeiro. Você também recita poema de Oswaldo de Andrade. Gostaria que você falasse um pouco sobre a relação poema e canção no seu trabalho.
Este é um excelente momento para viajar o Brasil e levar esses compositores e poetas tão importantes. A obra deles faz um sentido nesse momento tão delicado e difícil, no sentido de reforçar as coisas que estão acontecendo, tragédias anunciadas, coisas que se repetem e que não se aprendem com a história. As pessoas continuam usando as canções como meio de fala e expressão política e social. Eu não vejo a extinção da canção acontecendo, pois levando estes grandes poetas pelo Brasil eu vejo a força incrível disso, o quanto mexe com as pessoas.

Serviço:

A mulher do Pau Brasil, por Adriana Calcanhotto. Sexta, às 21h, no Teatro Riachuelo. Entrada: R$100 (frisas), R$140 (balcão), R$160 (plateia B), R$180 (plateia A), R$200 (camarotes).