Complexo da Rampa ainda não conta com acervo

A inauguração do Complexo Cultural da Rampa, no bairro de Santos Reis, está marcada para o dia 27 de dezembro. O local, com área de 13 mil metros quadrados, vai abrigar o Museu da Rampa e o Memorial do Aviador – voltados para a história da aviação e da participação de Natal na Segunda Guerra Mundial. No entanto, a menos de dez dias da data de inauguração pouco se tem de informação à respeito de projetos museográfico e expográfico para o espaço. Algo semelhante aconteceu com o Museu Café Filho, de administração da Fundação José Augusto. O prédio foi reaberto em agosto de 2017 e até agora não recebeu a exposição sobre seu patrono.

De frente para o Potengi, Complexo Cultural da Rampa abrange uma área de 13 mil metros. A edificação original vai abrigar o museu

De frente para o Potengi, Complexo Cultural da Rampa abrange uma área de 13 mil metros. A edificação original vai abrigar o museu

O órgão responsável pelo Complexo da Rampa é a Secretaria Estadual de Turismo (Setur). Em reportagem da Tribuna do Norte na semana passada, o secretário Manuel Gaspar descartou a possibilidade de inaugurar o espaço somente com a estrutura do prédio. Procurada ontem pela reportagem do VIVER, a Setur informou por meio da assessoria de imprensa que os detalhes da abertura para o público ainda estão sendo definidos.

Em Natal, alguns dos principais acervos sobre aviação e Segunda Guerra são de colecionadores particulares integrantes da Fundação Rampa, que inclusive conta com pesquisadores que estudam o tema há mais de 20 anos. Segundo o presidente da entidade, o jornalista Leonardo Dantas, a fundação ainda não foi contada formalmente quanto a alguma parceria para exposição. “Soubemos da data da reinauguração do Complexo da Rampa pelo jornal. A última conversa sobre acervo e exposição que tivemos com o pessoal do museu foi há dois anos. Na época chegou a ser pensado uma parceria público privada para o museu. Mas até agora não foi pra frente”, diz Leonardo Dantas. “Pode ser que até o dia 27 nos chamem para montarmos algo para a ocasião da reabertura. Essa figuração não nos agrada. O objetivo do prédio é ser um museu e não um lugar de encenação. Então já deveria ter sido pensada uma exposição permanente”.

A Fundação Rampa já deixou claro em várias ocasiões que tem o interesse em colaborar com a exposição, o que não seria a primeira vez. No período de 2000 até 2005, a entidade foi quem organizou a exposição do Museu da Rampa quando o local estava aberto – na época, sob a guarda da aeronáutica. Para a Copa do Mundo em Natal, em 2014, a Fundação também chegou a montar uma exposição. “A ideia era que essa exposição ocorresse na Rampa, mas como ainda estava em obras, montamos na Pinacoteca”.  As exposições da Fundação Rampa contam com peças de dois importantes acervos particulares.

Um é o do pesquisador Fred Nicolau e o outro é o do empresário Augusto Maranhão. Dentre as peças estão livros, revistas, fotografias, mapas, maquetes, cartas, relatórios oficiais, uniformes, filmes do período, depoimentos de veteranos gravados em vídeo. Augusto inclusive possui um caminhão da época e peças e motores de aviões utilizados durante a Guerra.

“Montar uma exposição não é simplesmente jogar o acervo lá e pronto. Para aquisição de cada peça há um trabalho de pesquisa por trás. Para saber a relação com Natal, saber se é legítima. Não é de graça. As coisas não podem ser na informalidade. Temos que ter um contrato”, comenta Leonardo.

O Complexo Cultural da Rampa abrange uma área de 13 mil metros quadrados e está localizado de frente para o Rio Potengi. O local vai dispor de espaços para exposição temporária e permanente, bar temático, loja de souvenir, banheiros, sala de administração, auditório, estacionamento para 85 carros, serviços de táxis, guias e ônibus de turismo, além de área externa, com píer à beira-rio para contemplação do Potengi.

Visitas e atrasos 

A ideia de transformar a antiga Rampa em um complexo cultural é algo que o poder público conversava desde 2006. Mas as obras de fato só foram iniciadas em junho de 2013. Um ano depois elas precisaram ser interrompidas por necessidade de ajustes técnicos. Na mesma época outro problema surge: a realocação dos pescadores artesanais que ocupam uma área vizinha ao Complexo há mais de 40 anos. A partir dai, o que se viu foi uma sucessão de datas não cumpridas para o reinício das obras, sempre com novos prazos para conclusão. Até que em junho de 2018 a situação dos pescadores e do projeto foi resolvida e as obras retomadas.

Projeto de Carlos Ribeiro Dantas, Complexo conta com um memorial do aviador, que abrigará auditório, loja e bar temático

Projeto de Carlos Ribeiro Dantas, Complexo conta com um memorial do aviador, que abrigará auditório, loja e bar temático

 

Durante todo esse processo o canteiro de obras recebeu vários tipos de visitas de pessoas interessadas no tema. Uma das primeiras foi a da consulesa dos Estados Unidos, Heidi Arola, no início de 2013. No mesmo ano, o escritor norte-americano Frank D. McCan, especializado em histórias da Segunda Guerra, visitou o local. Já em fevereiro de 2014, outra visita por motivo de pesquisa. Mônica Cristina Correa, pesquisadora de aviação civil franco-brasileira, vai à Rampa conhecer o local onde os hidroaviões franceses pousavam. Durante o período da Copa do Mundo de 2014, a Rampa é visitada pela embaixadora dos Estados Unidos Liliana Ayalde, acompanhada da consulesa Usha Pitts. A visita mais recente foi a do cônsul geral dos EUA no Recife, John Barret, ocorrida há duas semanas. Ele observou as instalações do complexo e assegurou a doação de um hidroavião do início do século passado para ser exposto no local.
Fundação Rampa vai abrir espaço para visitas em 2019
De acordo com Leonardo Dantas, a Fundação Rampa tentou várias vezes levar o acervo para o Museu da Rampa. Como nada foi definido oficialmente, eles estão trabalhando para dar visibilidade ao conteúdo guardado. “Um pessoa ofereceu uma casa para que levássemos o acervo para lá. A ideia é organizar o lugar para que funcione como exposição e lugar de pesquisa”, conta o presidente da Fundação. Ele ressalta que a casa não ficará aberta ao público.

“A Fundação é bastante procurada por quem está estudando o tema da Segunda Guerra. As pessoas pedem para ter acesso ao acervo, querem conhecer o que temos de material. Então nos foi oferecido esse lugar. As visitas serão só por agendamento. Estamos levando os materiais pra lá. A perspectiva é de estarmos com tudo pronto em janeiro”. Na foto, Fred Nicolau mostra acervo de uniformes de época.

O que
De frente para o Potengi, Complexo Cultural abrange a instalação do Museu da Rampa e a construção do Memorial da Aviação. Juntos, os equipamentos ocupam uma área de 13 mil m² no mesmo local onde funcionou a antiga rampa de hidroaviões. O projeto tem assinatura do arquiteto Augusto Ribeiro Dantas.