Monumentos pouco preservados

A Fortaleza dos Reis Magos, maior e mais antigo monumento do Rio Grande do Norte, erguido no século XVI para defender a futura cidade de Natal, está em ruínas. Castigado pela falta de conservação histórica, segurança e burocracia, a Fortaleza vai para o terceiro verão seguido sem receber nenhum ônibus de turistas para a visitação local, em meio a escombros de escavações e cômodos vazios. Na tentativa de reerguer o Forte, as obras de restauração devem começar em dezembro, ao custo de R$ 3,9 milhões, durar pelo menos um ano.
São poucos os que visitam a Fortaleza dos Reis Magos, diariamente. Em meio a escombros, eles logo se decepcionam e constatam que há pouco da memória da Natal de 1600
São poucos os que visitam a Fortaleza dos Reis Magos, diariamente. Em meio a escombros, eles logo se decepcionam e constatam que há pouco da memória da Natal de 1600
A poucos dias das obras terem início, ainda há quem visite o monumento com a expectativa de resgatar a memória da Natal dos anos 1.600, ainda em nascimento. Mas os ambientes internos estão esvaziados e desvirtuados. O Forte não é mais símbolo da resistência portuguesa às invasões francesas. Já não é mais possível imaginar os soldados caminhando sobre as muralhas da fortificação ilhada nas marés altas, inquietos a espera da iminente invasão, o sofrimento dos prisioneiros nas celas internas da construção.
São essas histórias, contadas por cronistas, historiadores e por professores em salas de aula, que fantasiam o imaginário de alunos sobre o monumento, construído em cima de um arrecife, na forma de um polígono. “Eles escutam o que o Forte fez e se encantam, mas quando vêm aqui é uma decepção porque nada parece com a imaginação deles”, declara a pedagoga Jarlane Duarte, que estava com uma turma de alunos entre 10 e 11 anos no local, na última quarta-feira, 31. “As salas estão vazias e mal usadas. Uma delas, que foi uma prisão, hoje é uma lanchonete. Eles não assimilam muito”, acrescenta.
Não existem placas indicando o que foi aquele local, explicando a utilização. Só isso já ajudaria muito, comenta Joris Guerin, francês
Não existem placas indicando o que foi aquele local, explicando a utilização. Só isso já ajudaria muito, comenta Joris Guerin, francês
Para além da importância histórica, a Fortaleza sempre foi um dos pontos de visitação turística do Rio Grande do Norte, chegando a receber cerca de 250 mil visitantes por ano até 2013, e é uma alternativa ao “turismo sol e mar”, classificado por empresários e especialistas da área como o turismo de visita as praias e o mais praticado no Estado. Não é possível estimar hoje quantos visitantes vão ao local porque não há mais bilheteria. Aberto de terça à domingo para visitação, a segurança e a manutenção é feita por um vigilante e dois auxiliares gerais.
Os poucos turistas que vão ao local se sentem perdidos pela falta de orientação. Não existem guias para explicar-lhes o que cada aposento do local significou. O francês Joris Guerin está na cidade há um mês e foi ao Forte acompanhado de uma potiguar, mas ainda sim sentiu falta das explicações. “Não existem placas indicando o que foi aquele local, explicando a utilização. Só isso já ajudaria muito”, declarou.
Hoje, as placas são inexistentes, ambientes estão interditados, as fiações estão expostas e escombros de uma escavação permanecem no que um dia foi o pátio dos soldados. A antiga Casa do Comando da Guarda abriga um depósito de materiais de construção, como pás, carros de mão, cordas e picaretas. Nos demais cômodos não há nenhum outro atrativo, a não ser a lanchonete citada pela pedagoga Jarlane.
Para o secretário de turismo do Rio Grande do Norte, Manuel Gaspar, a restauração da Fortaleza dos Reis Magos pode significar o retorno das empresas de turismo e um acervo museológico, o que o tornaria mais atrativo. “O Marco  de Touros [objeto que marca o descobrimento do Brasil pelos portugueses] tem que voltar para o Forte. Ele ficou lá durante um tempo, mas hoje está sob a posse da Fundação José Augusto”, diz o secretário.
Mas, segundo empresários e vendedores ambulantes, não basta somente restaurar o Forte. A falta de policiamento no entorno do local é uma questão que afasta mais ainda os turistas. “A nossa maior preocupação é a segurança pública”, afirma o empresário George Costa. “Isso é necessário para que a gente tenha mais tranquilidade de que o turista não vai sofrer furtos”, acrescenta.
Uma feira de artesanato que funciona no acesso ao Forte também tem aspecto de abandono. O vendedor de coco Luiz Antônio, o Lula, trabalha na feira há 15 anos, mas diz que as coisas pioraram a partir da saída dessas empresas. “No tempo das empresas, era bom. Tinha 20, 30 ônibus. Hoje em dia não tem mais nada porque começou uns assaltos, as empresas foram embora”, afirma.
Burocracia
O aspecto de abandono do monumento se agrava há quatro anos. Em 2013, a fortaleza passou do governo do Estado para o Iphan, órgão de patrimônio do Ministério da Cultura, com o argumento de que havia obras do PAC Cidades Históricas disponíveis para restaurá-lo.  Os recursos nunca foram empregados e, em março deste ano, a gestão voltou para as mãos do Estado. Depois de sete meses, a ordem de serviço para a restauração foi assinada no valor de R$ 3,9 milhões com recursos do Governo Cidadão.
Cidade histórica
As histórias das cidades estão expostas nos monumentos, nas arquiteturas e museus. Em Natal e no Rio Grande do Norte, a maior parte dessas exposições estão desativadas, seja por burocracia ou obras de restauração. Abaixo, veja a situação de cada um:
Museu da Rampa
Obra que se arrasta desde 2007, o Complexo Cultural da Rampa, em Natal, está previsto para ter as obras concluídas no fim deste mês de novembro. Com 13 mil metros quadrados de área, o local vai contar com o Museu da Rampa e o Memorial do Aviador. Cerca de R$ 8,7 milhões foi empregado no local. Após a conclusão, a expectativa é que abrigue um acervo sobre o encontro do então presidente do Brasil Getúlio Vargas e o presidente dos Estados Unidos Franklin Roosevelt em 1943 para tratar sobre a Segunda Guerra Mundial e sobre a aviação local.
Museu da Rampa deve reabrir no final do mês de novembro
Museu da Rampa deve reabrir no final do mês de novembro
Teatro Alberto Maranhão
O Teatro Alberto Maranhão, a mais antiga casa de espetáculo do Estado, está fechado desde 14 de julho de 2015. A Justiça interditou o local na data para obras e reformas de adequação de acessibilidade e prevenção a inundações e incêndios e desde então as portas estão fechadas.  Somente em junho deste ano a ordem de serviço foi dada pelo Governo do Estado. O teatro está sendo restaurado por R$ 7,6 milhões, custeados pelo Governo Cidadão. Construído entre 1898 e 1904 no estilo arquitetônico art nouveau, o local é tombado pelo Iphan desde 2014.
Teatro Alberto Maranhão também está fechado, mas teve sua reforma iniciada neste ano
Teatro Alberto Maranhão também está fechado, mas teve sua reforma iniciada neste ano
 
Pinacoteca
A Pinacoteca do Rio Grande do Norte também está fechada, desde junho deste ano. O local também teve as atividades paralisadas pela necessidade de equipamentos como plataformas elevatórias e rampas de acesso para cadeirantes. Local de exposição de esculturas, gravuras, fotografias, mapas e

pinturas, o prédio é a maior expressão da arquitetura neoclássica de Natal. O local abriga obras de artistas locais, nacionais

como Volpi, Tarsila do Amaral, Cicero Dias, Newton Navarro e Dorian Gray.

Pinacoteca do Rio Grande do Norte, em Natal, está fechada
Pinacoteca do Rio Grande do Norte, em Natal, está fechada
Faculdade de Direito
Incluído no PAC Cidades Históricas, o local que foi a mais antiga faculdade de Direito do Rio Grande do Norte está abandonado desde 2001. Deteriorado, com paredes caindo aos pedaços, focos de mosquitos e janelas arrancadas, o local está sob responsabilidade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e ainda não tem data para ser restaurado. Duas licitações foram feitas, mas não tiveram sucesso. Um novo projeto teve que ser feito e, segundo a UFRN, está em fase final de elaboração.
Mais antiga Faculdade de Direito do RN está fechada desde 2001, aguardando reformas
Mais antiga Faculdade de Direito do RN está fechada desde 2001, aguardando reformas