Mourão diz que, se governo falhar, conta ‘irá para as Forças Armadas’

O Globo

CAMBRIDGE, EUA – O vice-presidente Hamilton Mourãodisse neste domingo, em evento nos Estados Unidos, que ele e o presidente Jair Bolsonaroentendem que, se o governo “falhar, errar demais”, “essa conta irá para as Forças Armadas”. Por isso, segundo ele, logo após as eleições, os dois conversaram sobre a responsabilidade de recolocar os militares no centro do poder, quando o presidente teria dito: “nós não podemos errar”.

– Se o nosso governo falhar, errar demais, porque todo mundo erra, mas se errar demais, não entregar o que está prometendo, essa conta irá para as Forças Armadas. Daí a nossa extrema preocupação – declarou o vice.

Mourão disse ainda que a diferença entre a participação das Forças Armadas na política hoje e à época da ditadura – sobretudo durante o período do governo de Ernesto Geisel, que promoveu a abertura para recolocar os civis no poder – é que ele e Bolsonaro foram eleitos.

– O Geisel não foi eleito, eu fui – declarou Mourão, que é general.

A afirmação foi feita na cidade de Cambridge, nos Estados Unidos, onde Mourão fez o discurso de encerramento da Brazil Conference, evento organizado por estudantes brasileiros das universidades de Harvard e do MIT. Na primeira fila assistindo ao discurso de Mourão estavam o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli e os governadores do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e de Minas Gerais, Romeu Zema.

A declaração de Mourão foi em resposta a uma pergunta sobre se os militares não teriam aprendido a lição do General Ernesto Geisel de que não deviam ser uma força atuante na política nacional. Geisel foi presidente durante a ditadura militar, entre os anos de 1974 e 1979. Durante seu governo, promoveu a abertura política “lenta, gradual e segura”.

Segundo o estudante de doutorado de Harvard Fernando Bizarro, que fez a pergunta, no governo Geisel havia a percepção de que “governar não era tarefa para as Forças Armadas” e que a transição à democracia teria sido promovida pelo general para “preservar a unidade e a legitimidade das Forças Armadas”. O estudante perguntou por que a lição que Geisel aprendeu não se aplicava a Mourão.

Depois de fazer a declaração sobre Geisel, Mourão foi ovacionado pela plateia. Alguns participantes chegaram a aplaudi-lo de pé. Em meio aos aplausos, um manifestante entrou no auditório e gritou “ditadura nunca mais!”. Ele foi retirado da sala pelos seguranças. Segundo os organizadores do evento, depois disso, a organização conversou com o manifestante, que se retirou. Mourão continuou:

– As Forças Armadas não estão no poder. As Forças Armadas continuam com a sua missão constitucional, cada uma com seu comandante. – e concluiu – O que ocorre é que dois militares foram eleitos. O presidente Bolsonaro, 30 anos fora das Forças Armadas, ele é um político. Mais político do que militar.

Pesquisa Datafolha e a popularidade de Bolsonaro

Ao comentar a queda de popularidade de Bolsonaro, o vice-presidente disse que o Executivo não tem “uma varinha de condão”. Pesquisa do Datafolha de hoje mostra que Bolsonaro tem a pior avaliação após três meses de gestão entre os presidentes eleitos para um primeiro mandato desde a redemocratização.