Falar de empoderamento é fácil, mas falta ação, diz CEO de app para mulheres

R7

Gabryella Corrêa  é fundadora da Lady Driver, app de transporte exclusivamente feminino
Reprodução/ Facebook

“Pedi um carro na faculdade para ir para casa. Na rádio, uma sexóloga tirava dúvidas dos ouvintes. O motorista aumentou o volume, virou para trás e ficou me perguntando: ‘Mulher gosta disso mesmo, amor?’ Fiquei sem reação. Cheguei em casa e desabei de chorar ”. Segundo dados de 2018 da Secretaria de Segurança Pública, relatos como o da dentista de 27 anos Laiza Lucas ocorrem pelo menos a cada dois dias em São Paulo.

Seja no transporte público, propício a assédio para 4 em 10 mulheres, ou por carro de aplicativo, usando roupas da faculdade ou “shortinho de Anitta” – justificativa usada pelo motorista de Uber acusado de assediar uma adolescente de 17 anos –, dados sobre assédio sexual em meios de transporte apontam que, no Brasil, ser mulher também significa ser impedida de ir e vir. E isso precisa ser discutido não só no Dia Internacional da Mulher, mas todos os dias.

A empresária Gabryella Corrêa, fundadora do Lady Driver, aplicativo de carona exclusivo para o público feminino, faz parte desses dados. A ideia de negócio, inclusive, surgiu após ser vítima de importunação sexual dentro de um taxi. Para Corrêa, falta às gigantes dos aplicativos de transporte o investimento na segurança de suas passageiras.

“Embora se fale muito em empoderamento e diversidade, as marcas usam essas palavras porque estão na moda, mas faltam ações reais para que isso seja feito na prática, como treinamentos dentro das empresas e a garantia que motoristas capacitados dirijam nas plataformas e não coloquem as passageiras em risco. É um marketing que não se sustenta. ”

Na liderança da Lady Driver, Gabryella é responsável pela circulação de 65 mil motoristas mulheres em São Paulo. Ela conta que, nas duas primeiras ocasiões em que tocou o próprio negócio – uma no ramo automotivo, outra na área de construção civil –, foi vítima do mesmo machismo que a fez passar pelo assédio dentro do transporte. “Tive funcionários que me desrespeitavam porque era mulher e aprendi muito. Isso acabou fazendo com que eu valorizasse mais o trabalho feminino.”

Para ela, criar um aplicativo que proporcione uma troca entre mulheres vai além de tocar um negócio. “Acredito que isso signifique liberdade para que a mulher possa fazer o que quiser, sair com a roupa que quiser, na hora que quiser. Às vezes achamos que essa liberdade não é para a gente.”