Coronavírus: 21 estados e o DF têm estoque zerado de algum sedativo usado em casos graves

Levantamento das secretarias estaduais aponta que remédios ainda existentes não durarão muito tempo; pesquisa se refere a 22 drogas consideradas essenciais

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O globo

Levantamento das secretarias estaduais aponta que remédios ainda existentes não durarão muito tempo; pesquisa se refere a 22 drogas consideradas essenciais

O estudo levou em conta uma lista de 22 remédios considerados essenciais para o procedimento feito em pacientes graves de Covid-19. Mato Grosso tem o número mais elevado de medicamento em falta: 13. No Maranhão e Ceará, há escassez de 12 produtos.null

No caso de remédios que ainda não acabaram, os estoques são baixos. Há 23 unidades da Federação com medicamentos da lista que só duram dez dias no máximo.

O Amapá tem situação emblemática nesse sentido: dos 22 medicamentos listados na pesquisa do Conass, 11 estão em falta e 11 têm estoques de dez dias ou menos. Sem os medicamentos, as equipes de saúde ficam impossibilitadas de fazerem a entubação para salvar a vida do paciente.

Mas também há casos no Sudeste. Na Santa Casa de Araraquara, no interior de São Paulo, o estoque de sedativos, analgésicos e relaxantes neuromusculares deve durar apenas dez dias. São, pelo menos, 15 drogas, entre elas morfina.

De acordo com André Peluso, infectologista e diretor técnico da Santa Casa, estas medicações são necessárias em procedimentos de entubação e ventilação mecânica para pacientes com Covid-19 e também para os que necessitam de cuidados intensivos provocados por outras doenças ou pelos que necessitam de procedimentos cirúrgicos, sejam eles de emergência ou eletivos. 

— Essas medicações são essenciais para uma assistência adequada. Na falta delas, os procedimentos cirúrgicos eletivos precisam ser reagendados devido à necessidade de realocação de recursos por prioridade e demanda — diz Peluso, acrescentando que a falta desses insumos traz uma preocupação a mais para profissionais de saúde, já sobrecarregados com a pandemia. —A incerteza de conseguir prover um tratamento adequado aos pacientes gera estresse e desmotivação.

Mercado internacional

Heber Dobis, consultor de assistência farmacêutica do Conass, cobrou na audiência da Câmara mais agilidade do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na compra e distribuição dos medicamentos. Os órgãos estudam acionar o mercado internacional para uma aquisição emergencial e reforçar as aquisições na indústria nacional.

— Pelo cenário apresentado de quase todos os medicamentos estarem zerando em quase todos os estados, essas ações entre Anvisa e Ministério da Saúde para definir qual é essa regra que será aceita têm que ser realizadas no menor prazo possível — afirmou Dobis.

Assessor especial da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, Alessandro Glauco afirmou que aguarda um parecer da Anvisa sobre regularidade de uma compra a ser feita por meio da Organização Panamericana de Saúde (Opas).

Outra ação é uma ata de registro de preços que, segundo Glauco, deve estar publicada em três semanas no máximo pelo ministério. O objetivo é centralizar o processo para que os estados possam aderir à licitação e fazer suas compras.

Por fim, completou o assessor, o governo federal coloca à disposição sua capacidade de logística para distribuir os medicamentos. Segundo ele, é preciso haver uma coordenação para não “cobrir um santo descobrindo outro”, ao se referir à necessidade generalizada dos insumos no momento atual.

Escassez 

A reunião teve momentos tensos com questionamentos sobre os reais motivos da falta de abastecimento. Enquanto representantes da indústria levantavam escassez de insumos no mundo todo, parlamentares retrucavam. Foi levantada a hipótese de represamento dos produtos por distribuidores e a prática de sobrepreço.

— Até este momento, também não conseguimos saber por que as compras não estão sendo realizadas — disse Glauco, do Ministério da Saúde.

Segundo Dobis, consultor do Conass, de 20 secretarias que tentaram abrir processos nos últimos meses para comprar os medicamentos, em 13 não houve interessados em fornecer ou os requisitos não foram atendidos. Há também 18 estados, segundo ele, que têm aquisições abertas com atraso na entrega.