Fecomércio: Com queda recorde do consumo, economia afunda quase 10% no 2º tri

O tombo de 9,7% que a economia brasileira teve no segundo trimestre por conta da pandemia de covid-19 foi levado, sobretudo, pela contração recorde no consumo das famílias, que corresponde a 65% do Produto Interno Bruto (PIB).

Com os protocolos de distanciamento social exigidos nos últimos meses, esse indicador despencou 12,4% de abril a junho —período marcado pelo fechamento do comércio essencial no país —, em relação ao primeiro trimestre do ano.

No acumulado do ano, a economia já encolheu 12% em relação ao último trimestre de 2019. Apesar do consumo interno ter tido o principal impacto negativo, as perdas foram disseminadas entre os principais setores.

Nessa esteira, surpreendeu negativamente o consumo do governo, com queda de 8,8% na mesma comparação. Outro ponto negativo para o período foi a Formação Bruta de Capital Fixo, que representam os investimentos do governo, com contração de 15,4% de abril a junho. Ainda pelo lado da oferta, a indústria caiu 12,3%.

De forma geral, o resultado do PIB veio relativamente pior do que a previsão do mercado, cuja mediana das expectativas ficava em 9,4%. Dada a magnitude da contração, no entanto, essa diferença não é “exatamente o fim do mundo, mas facilita algumas interpretações para o resto do ano”, segundo Arthur Mota, economista da Exame Research.

O governo anunciou hoje também uma piora do resultado do primeiro trimestre, de uma queda de 1,5% calculada anteriormente, para – 2,5%. Mas como a taxa de queda em relação ao ano anterior não mudou, a alteração é mais técnica por conta de um ajuste sazonal, explica Mota.

Um ponto positivo ficou para a contribuição das exportações líquidas para o crescimento. A balança de bens e serviços avançou 1,8% nas exportações, enquanto as importações recuaram 13,2%. Esse movimento, segundo Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs responsável por América Latina, deve possibilitar um 216 pontos base (p.b.) ao crescimento sequencial, e 210 p.b. ao crescimento anual da atividade.

Na opinião de Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro, do Ibre-FGV, os serviços prestados às famílias, devem continuar puxando para baixo o resultado para o ano, embora o terceiro trimestre deva ser de recuperação parcial:

“Esse PIB mostrou que poderia ter sido muito pior sem as ajudas governamentais. Parte dessa queda de consumo das famílias, é explicada pelo consumo de serviços, já que o de bens teve uma recuperação que continua em julho e agosto”, diz. O Ibre espera para o próximo trimestre uma alta em torno de 6% para o PIB.

O governo divulgou nesta terça-feira a extensão do auxílio emergencial pago aos mais vulneráveis social e economicamente durante a crise. O valor, porém, será de R$ 300 ante os R$ 600 anteriores. Até o fim do ano, o programa deve adicionar cerca de 100 bilhões de reais, o que representa cerca de 1,4% do PIB, segundo nota a clientes da Necton Investimentos.

Para Matos, a extensão do auxílio poderá significar uma variação do “PIB que ficaria mais para os – 4,5% do que para – 5% em 2020. A estimativa do instituto ainda é uma queda de 5,4% ao ano.