Diploma não é garantia de emprego

O taekwondo surgiu na vida de Fábio Matias em 2007 e ganha cada vez mais importância desde então. O potiguar começou a dar aulas da modalidade em escolas de Natal com apenas três anos de prática e, em 2012, iniciou a graduação de Educação Física para se qualificar e seguir em definitivo na área. A formação e as aulas ministradas se tornaram inconciliáveis por causa do horário. Fábio teve que trocar de emprego e hoje, um ano depois de formado, insere-se entre 1,3 milhão de brasileiros com ensino superior completo que ingressaram no mercado de trabalho entre 2014 e 2017 em funções que exigem somente o ensino médio.

Fábio Matias prefere trabalhar na área de formação: “dar aulas me satisfaz, é algo que eu gosto e faço com maior prazer”

Fábio Matias prefere trabalhar na área de formação: “dar aulas me satisfaz, é algo que eu gosto e faço com maior prazer”

 

Os dados são de um estudo feito pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Diesee) no ano de 2017. Não há números regionais. O estudo mostra que grande parte dos profissionais desempregados empreendem ou aceitam trabalhos com menor nível de especialização. No caso de Fábio, o problema não foi diretamente o desemprego: quando se graduou, em julho de 2017, já ocupava a vaga de atendente online em uma empresa de telecomunicação. Entretanto, a mudança, para retornar para a área de Educação Física, está sendo um desafio.

“Dar aulas me satisfaz, é algo que eu gosto e faço com o maior prazer”, declara o educador físico, de 30 anos. “Mas desde que eu me formei ainda não consegui uma vaga de emprego na área, apesar de estar distribuindo currículos e me preparando para fazer concursos públicos”.

Professor de taekwondo mesmo sem a formação superior, Fábio chegou a dar aulas em três escolas de Natal, localizadas na zona Norte.  A carga horária dependia do dia, mas, na maior parte da semana, as aulas findavam somente às 17h. Depois que passou a fazer Educação Física em uma faculdade particular localizada na zona Sul, começou a se prejudicar. As aulas começavam às 18h. Entre a hora em que era professor e a em que era aluno, precisava se arrumar para a aula e atravessar a cidade de ônibus. Não havia tempo e era normal chegar trinta minutos atrasado.

Nas três escolas, Fábio tinha contrato de prestação de serviço, sem carteira assinada. Pesou os prós e contras de se manter neles e trancar o cursos superior ou procurar outras áreas para trabalhar, permanecendo no emprego. Optou pelo segundo e acabou sendo aceito por uma empresa de telecomunicação com atuação no estado, com o horário de trabalho entre às 8h e às 14h. “Passei a ganhar menos, mas consegui carteira assinada e podendo ir para as aulas, conseguir terminar o curso”, relata.

A formação veio em julho de 2017. Um ano depois, ele continua no mesmo cargo na empresa de telecomunicação, com duas tentativas frustradas de promoção. Mas, hoje, sente-se mais qualificado dentro da educação física para procurar empregos mais rentáveis na área. Não há muito tempo, fez entrevistas para escolas. Agora, aguarda a resposta, com a expectativa de voltar a ser professor – seja de educação física geral ou somente da modalidade em que luta há 11 anos.

No rastreio das vagas, Fábio vê o mercado de educação física um pouco restrito, mas não desanima. Se a vaga em que fez a entrevista der certo, já sabe que vai trocar de emprego. “Vou passar a ganhar semelhante, mas terei folgas nos feriados e fins de semana e um horário de trabalho melhor”, avalia. “Sai mais em conta”. Isso também possibilitaria ele voltar a atuar em mais de uma escola, o que aumentaria a sua renda.

Outra opção são os concursos – “um pouco restritos para a educação física, mas que sempre tem vagas” – de professor e de outras áreas fora da educação, como a Polícia Militar e a Polícia Federal. A área de segurança é outra do seu interesse, desde que serviu obrigatoriamente o Exército, aos 18 anos.

Ainda na espera dos resultados e de lançamento dos editais, o que Fábio sabe, com certeza, é que permanecer no seu cargo hoje não é algo que pensa a longo-prazo. “Eu vejo outras oportunidades, até mesmo o mestrado”, diz. “Quando eu era mais moleque, não pensava em educação física, mas isso foi mudando ao longo do tempo e hoje é uma área em que eu me encontrei”.
Por Trás dos Números
A série “Por trás dos números – Emprego” traz, nesta última semana do mês de setembro, reportagens sobre a vida das pessoas que estão em diversas situações de ocupação. Nesta quinta-feira, abordamos os trabalhadores com formação superior que ocupam vagas que exigem qualificação de ensino médio ou semelhante.

Brasil
2,2 milhões de pessoas com formação de ensino superior ingressaram no mercado de trabalho no Brasil entre 2014 e 2017,

1,3 milhão passou a ocupar vaga em funções que exigem somente o ensino médio

Fonte: Dieese

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