Os dados são de um estudo feito pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Diesee) no ano de 2017. Não há números regionais. O estudo mostra que grande parte dos profissionais desempregados empreendem ou aceitam trabalhos com menor nível de especialização. No caso de Fábio, o problema não foi diretamente o desemprego: quando se graduou, em julho de 2017, já ocupava a vaga de atendente online em uma empresa de telecomunicação. Entretanto, a mudança, para retornar para a área de Educação Física, está sendo um desafio.
“Dar aulas me satisfaz, é algo que eu gosto e faço com o maior prazer”, declara o educador físico, de 30 anos. “Mas desde que eu me formei ainda não consegui uma vaga de emprego na área, apesar de estar distribuindo currículos e me preparando para fazer concursos públicos”.
Professor de taekwondo mesmo sem a formação superior, Fábio chegou a dar aulas em três escolas de Natal, localizadas na zona Norte. A carga horária dependia do dia, mas, na maior parte da semana, as aulas findavam somente às 17h. Depois que passou a fazer Educação Física em uma faculdade particular localizada na zona Sul, começou a se prejudicar. As aulas começavam às 18h. Entre a hora em que era professor e a em que era aluno, precisava se arrumar para a aula e atravessar a cidade de ônibus. Não havia tempo e era normal chegar trinta minutos atrasado.
Nas três escolas, Fábio tinha contrato de prestação de serviço, sem carteira assinada. Pesou os prós e contras de se manter neles e trancar o cursos superior ou procurar outras áreas para trabalhar, permanecendo no emprego. Optou pelo segundo e acabou sendo aceito por uma empresa de telecomunicação com atuação no estado, com o horário de trabalho entre às 8h e às 14h. “Passei a ganhar menos, mas consegui carteira assinada e podendo ir para as aulas, conseguir terminar o curso”, relata.
A formação veio em julho de 2017. Um ano depois, ele continua no mesmo cargo na empresa de telecomunicação, com duas tentativas frustradas de promoção. Mas, hoje, sente-se mais qualificado dentro da educação física para procurar empregos mais rentáveis na área. Não há muito tempo, fez entrevistas para escolas. Agora, aguarda a resposta, com a expectativa de voltar a ser professor – seja de educação física geral ou somente da modalidade em que luta há 11 anos.
No rastreio das vagas, Fábio vê o mercado de educação física um pouco restrito, mas não desanima. Se a vaga em que fez a entrevista der certo, já sabe que vai trocar de emprego. “Vou passar a ganhar semelhante, mas terei folgas nos feriados e fins de semana e um horário de trabalho melhor”, avalia. “Sai mais em conta”. Isso também possibilitaria ele voltar a atuar em mais de uma escola, o que aumentaria a sua renda.
Outra opção são os concursos – “um pouco restritos para a educação física, mas que sempre tem vagas” – de professor e de outras áreas fora da educação, como a Polícia Militar e a Polícia Federal. A área de segurança é outra do seu interesse, desde que serviu obrigatoriamente o Exército, aos 18 anos.
Brasil
2,2 milhões de pessoas com formação de ensino superior ingressaram no mercado de trabalho no Brasil entre 2014 e 2017,
1,3 milhão passou a ocupar vaga em funções que exigem somente o ensino médio
Fonte: Dieese