RN perdeu doadores de órgãos em 2018

Na data em que se celebra o Dia Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos, o Rio Grande do Norte não tem muito o que comemorar. Isso porque o Estado diminuiu em 37,5% o número de doadores de órgãos em um ano, segundo dados do Ministério da Saúde divulgados nesta quinta-feira (27). Em números absolutos, o RN tinha 32 doadores no primeiro semestre de 2017. Agora, até o primeiro semestre de 2018, o Estado possui 20 doadores. Os números fazem do RN o terceiro pior estado do Brasil em relação à queda na quantidade de doadores. O coordenador da Central de Transplantes do RN, Yuri Galeno, atribui a redução ao corte das linhas telefônicas do Hospital Walfredo Gurgel, onde funciona  a Central, o que contribuiu para a redução de notificações de morte cerebral e, consequentemente, de doadores.

É preciso notificar a existência de potenciais doadores. Sem linha telefônica, notificações caíram

É preciso notificar a existência de potenciais doadores. Sem linha telefônica, notificações caíram 

“Cortaram o telefone do  Hospital Walfredo Gurgel por falta de pagamento. Passamos boa parte do ano sem a disponibilização de telefones para o público geral e isso atrapalhou o número de notificações. As  notificações caíram e a gente sabe por estudos internacionais, que quando diminui a notificação consequentemente vai diminuir a captação e doação. É feito todo um trabalho de educação continuada com os profissionais da saúde para que eles estejam sempre notificando e avisando a central de transplantes, mas não tinha nem como fazer isso porque não tinha telefone para fazer. Isso já foi regularizado, a conta foi paga e o telefone voltou a funcionar”, disse à Tribuna do Norte. As notificações são quando as unidades de saúde suspeitam que há morte cerebral por parte do paciente. O hospital deve ligar para a Central de Transplantes, que dará início aos trâmites necessários para uma eventual doação.

No Nordeste, o RN apresentou redução assim como  Pernambuco (92 em 2017 para 84 em 2018), Piauí (queda de 15 para 10) e Maranhão (8 para 7). Além disso, o Rio Grande do Norte ficou em terceiro colocado entre os onze estados que mais reduziram o número de doadores. Rio Grande do Sul (queda de 144 para 117) e Minas Gerais (117 para 94) lideram o ranking.

Não foi apenas no tocante a doadores que o RN apresentou redução nos dados. A recusa por parte dos familiares também apresentou aumento, indo de 42%  (julho/2017) para 52% (setembro), em números divulgados pela Sesap e Assembleia Legislativa, respectivamente.

“A gente sabe que quanto melhor é a assistência durante o internamento, maior a chance da família aceitar a doação caso ele evolua para a morte encefálica. E a gente sabe a situação que a saúde vive, de precariedade no atendimento, atraso do salário de funcionários. De um modo geral a assistência ficou de certa maneira comprometida nesse período e isso resultou num aumento no número de recusa dos parentes”, explicou, ressaltando ainda questões religiosas e educacionais e o fato do paciente não ter demonstrado em vida que queria ser doador.

Para melhorar o quadro, o atual coordenador explica que alguns cursos estão sendo feitos junto aos profissionais de saúde, aliado ao fato de que o mês atual é considerado o “Setembro Verde”, dedicado à conscientização da importância da doação de órgãos.

“O que vem sendo feito é a abordagem dos profissionais de saúde: vamos fazer três cursos com os profissionais. O primeiro foi feito hoje e outros dois em outubro,  para desmistificar o processo de doação, ensinar como faz a manutenção, como entrevistar o familiar, humanizar o processo”, explicou.

Nacionalmente, apesar de ter registrado queda em onze estados, o Brasil teve um crescimento de 7%, no comparativo entre os primeiros semestres de 2018 e 2017. Em números absolutos, o Brasil tinha 1.653 doadores em 2017 e agora possui 1.765 pessoas que se dispõem a doar seus órgãos para salvar outras vidas.

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil poderá fechar o ano com um número recorde de doadores efetivos, em se tratando de projeções anuais feitos pela pasta. As expectativas é de que 2018 encerre com 3.530 doadores efetivos e 10.620 potenciais doadores, números superiores aos outros cinco levantamentos disponibilizados pelo MS.

De acordo com o MS, um doador efetivo caracteriza-se como aqueles que iniciaram a cirurgia para a retirada de órgãos com a finalidade de transplante. O Ministério espera fechar o ano com uma taxa de 17 doadores efetivos por milhão da população (PMP), ultrapassando a meta do Plano Plurianual do Ministério da Saúde, que prevê o alcance de 15 doadores efetivos PMP para este ano. Em números absolutos, o país deve contar com 3.530 doadores efetivos, batendo recorde da série histórica dos últimos cinco anos.

Doações de órgãos
De acordo com levantamento divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap), atualmente, o Rio Grande do Norte ocupa o 3º lugar no Nordeste, em número de doações de órgãos com 11,4% por milhão de população (pmp). O Ceará está em primeiro lugar, com 25,9% pmp e Pernambuco em 2º lugar, com 17,7% pmp.

O RN realiza transplantes de rins, córnea e medula óssea, sendo o de córneas o maior quantitativo, com 83 transplantes realizados entre janeiro e junho de 2018. No mesmo período foram realizados 29 transplantes de rim.

No estado existem, cadastrados na lista ativa de espera, 177 pacientes aguardando transplante de córnea, 213 aguardando por um transplante renal e 50 pessoas à espera por um transplante de medula.
Estados que perderam doadores entre 2017 e 2018
Rio Grande do Sul
2017: 144
2018: 117
Minas Gerais
2017: 117
2018: 94
Rio Grande do Norte
 
2017: 32
 
2018: 20
Distrito Federal
2017: 44
2018: 33
Pernambuco
2017: 92
2018: 84
Pará
2017: 17
2018: 11
Piauí
2017: 15
2018: 10
Amazonas
2017: 10
2018: 5
Espírito Santo
2017: 23
2018: 20
Maranhão
2017: 8
2018: 7
Mato Grosso
2017: 1
2018: 0
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