
Antropóloga Thárgila e sua orientadora de mestrado, Julie Cavignac: estudo da cozinha boêmia do Centro
“É uma culinária específica. Essencialmente, uma cozinha de boteco, mas o boteco de uma cidade nordestina do interior, que se caracteriza pelos alimentos que são da nossa região”, afirma Thágila Oliveira, uma antropóloga apaixonada por gastronomia, que saboreia a comida do centro por prazer e também por estudo.
O tema de sua dissertação de mestrado é “A cozinha boemia: estilo alimentar, identidade local e sociabilidade na Cidade Alta”, um estudo feito entre degustações e observações.

A culinária da Cidade Alta tem perfil sertanejo e de boteco
Thágila não vê a gastronomia da Cidade Alta pelo viés da refeição, mas de uma comida de festa, daquelas pensadas para acompanhar uma bebida. “Não é comida para encher a barriga. Até pode, claro, mas a sinto mais como acompanhante para uma cerveja ou aguardente. É sabor para lazer, para uma festa”, analisa. Ela sabe que o centro está hoje repleto de restaurantes diferentes, entre self-services, cozinha oriental, europeia, e fast foods variados, mas é na comida de bar que o bairro mantém sua identidade.
O roteiro antropológico e gastronômico de Thágila passa pelo bar de Zé Reiera e se serve da galinha caipira, o chambaril com pirão, e a bisteca de porco, que ela destaca como seus favoritos. Já no Bar da Nazaré, outro local favorito, ela destaca o carneiro com macaxeira, a fava, e a galinhada que é servida só às sextas-feiras. E ainda tem carne de sol, paçoca, picado, e baião de dois, alguns clássicos da área. Para Thágila, os bares e restaurantes que servem essa comida ajudam a manter a identidade de espaços que não costumam ter visibilidade. “A boemia faz parte da história do centro antigo. Não é só comer para saciar, mas também se sentir pertencente ao lugar. A culinária ressignifica esse ambiente”, diz.

Maioria dos ‘comes’ do centro são a melhor companhia para uma cerveja gelada ou cachacinha
Almoço temático terá sorvete de “meladinha”
A pesquisadora e cozinheira Adriana Lucena transformou as memórias culinárias, baladeiras e afetivas dos anos 80 e 90 no cardápio de seu novo almoço temático, “A cozinha pop da Cidade Alta”, que ela servirá nesta sexta-feira na Galeria de Arte B-612, na Ribeira (com reservas já esgotadas). No cardápio terá caldo de mocotó, um cozido completo com arroz de pirão, e um sorvete baseado na histórica receita de cachaça e mel do Bar da Meladinha. E um cafezinho pra encerrar.

Chef Adriana Lucena serve hoje almoço em homenagem a cozinha da Cidade Alta
Adriana conta que não frequenta mais os sambas e festas do centro, mas continua aparecendo durante a semana, sem as badalações, para saborear as iguarias da área. “A comida da Cidade Alta, no geral, tem um perfil caseiro, por isso que é tão saborosa. Apesar do centro ter mudado muito, a comida se mantém a mesma”, afirma. O próximo almoço temático de Adriana já tem um tema: “Inspirações no Sertão”, no qual ela fará releituras de receitas antigas, de família, mas sem cair no regionalismo óbvio. Histórias sempre podem ser contadas de outra forma.