A disputa pela pesca de atum fresco no Oceano Atlântico quase terminou em tragédia na quinta-feira (22). O barco pesqueiro potiguar Oceano Pesca 1, de 22 metros de comprimento e que estava com dez tripulantes, foi alvo de um atentado por parte de uma embarcação chinesa de maior porte, com aproximadamente 42 metros e 30 pessoas a bordo. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Pesca do Rio Grande do Norte (Sindipesca), Gabriel Calzavara, por pouco o barco, que pertence não afundou após a ação dos chineses.
De acordo com o relato de Calzavara, o comandante do barco potiguar informou que os chineses estavam muito próximos e que iriam colidir com o barco potiguar. O comandante asiático não só manteve o curso, como acelerou a embarcação e atingiu em cheio os potiguares. Após isso, os tripulantes chineses ainda fizeram sinal com a mão no pescoço, como se ameaçassem de morte os potiguares, e arremessaram objetos contra a embarcação do Rio Grande do Norte.
“O casco ficou com um grande buraco e só não afundou porque, abaixo da estrutura de aço, há o material de poliuretano que é usado para conservar o pescado. Se não fosse isso, o barco teria afundado e nós sequer saberíamos o que havia acontecido”, disse Gabriel Calzavara, que foi informado sobre o atentado pelo comandante através de telefone via satélite. A embarcação só deverá chegar a Natal no sábado (24).
O fato, de acordo com o presidente do Sindipesca, foi o mais grave que já ocorreu com uma embarcação pesqueira potiguar. No entanto, ele disse que a disputa pela pesca do atum já havia motivado outros atos hostis por parte de embarcações internacionais, principalmente os chineses.
Disputa
A pesca do atum em alto mar é alvo constante de discussões internacionais. Durante reunião do Conselho Internacional para Conservação do Atlântico (ICCAT, na sigla em inglês), ficou acordado que o limite de pesca para o ano seria de 500 mil toneladas nas águas do oceano, com o objetivo de garantir a conservação do peixe nas águas do Atlântico. De acordo com o Sindipesca/RN, o Brasil tem crescido no setor e buscado aumentar o percentual na divisão da quantidade limite de atum a ser pescado. O fato estaria incomodando os produtores de outros países.
“A briga é porque esses países da pesca desenvolvida, como China, Japão, Espanha, já pescam há muito tempo por aqui e alguns não são costeiros do Atlântico. O Brasil representa aproximadamente 5% do atum pescado, mas tem condições de expandir e, por ser um país costeiro, tem que ter prioridade”, explicou Gabriel Calzavara.

Atualmente, o Brasil produz aproximadamente 24 mil toneladas de atum nobre para exportação por ano, em negócios que giram em torno de R$ 600 milhões. O Rio Grande do Norte, que tem 19 empresas regularizadas para a pesca do atum, é responsável por quase 80% dessa produção, que é vendida principalmente para Estados Unidos, Japão e Europa.
“Essa atitude desse comandante não é uma atitude isolada. É uma retaliação ao avanço da frota brasileira na pesca de atum. Isso coloca em xeque o protagonismo do Brasil na pesca do Atlântico. Precisamos ir para dentro desses fóruns e cobrar o nosso espaço. O Governo brasileiro tem que entrar pesado para discutir isso e ser intransigente nos direitos de, por sermos costeiros, termos prioridade nas pescarias. Não é possível que uma frota chinesa tenha mais direito de pescar do que a gente é costeiro, e não podemos ir para o mar com medo de pescar”, cobrou Calzavara.
Marinha
A Marinha do Brasil foi informada sobre o fato e disse que irá se pronunciar através de nota ainda nesta sexta-feira (23).