Inflação acima de 10% pelo 2º ano seguido começa a entrar no radar de economistas
banco BNP Paribas foi o primeiro a elevar, oficialmente, a projeção de IPCA em 2022 para 10% – o dobro do teto da meta. “Esperamos pressão dos mesmos setores, mas com impacto mais forte e duradouro”, disseram Gustavo Arruda, chefe de pesquisa para América Latina do BNP, e Laiz Carvalho, economista para Brasil da instituição, em relatório. “E esperamos que parte dos aumentos de preços em 2022 afetem a inflação de 2023.” A projeção do BNP Paribas para o IPCA fechado no ano que vem subiu de 4,5% para 5% (o teto da meta no ano que vem é de 4,75%).
Segundo Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, a probabilidade de o IPCA atingir dois dígitos em 2022 aumentou de 10% para 30% nos últimos dois meses. Ela atribui o risco crescente à mudança de dinâmica da inflação.
“Há alguns meses, imaginávamos que essa inflação mais elevada tinha a mesma característica de 2021. Hoje, vemos uma situação diferente, com espalhamento preocupante e núcleos afetados, sem a evolução esperada para os itens que o BC tem maior condição de controlar”, diz. “Nossa expectativa atual para o IPCA 2022 está em 8,4%, mas pode chegar a um patamar até mais elevado que o de 2021. É uma possibilidade que não é remota.”
João Fernandes, economista da Quantitas, elevou, nos últimos dias, a projeção de IPCA de 2022 de 8,8% para 9%, e alertou que os riscos ainda são para cima. Um novo reajuste de preços de combustíveis por parte da Petrobras, por exemplo, adicionaria até 0,2 ponto porcentual à estimativa.
“Nós temos ficado, ao longo de todo esse ciclo, na banda superior das projeções de inflação, mas algumas coisas vêm se materializando em um sentido ainda mais de alta do que o esperado”, diz Fernandes. Entre as pressões sobre o IPCA o economista cita os aumentos de vestuário, devido à alta do algodão no mercado internacional, além de reajustes acima do esperado para distribuidoras de energia e das altas de passagens aéreas.
