Agosto Lilás: Os Múltiplos Rostos da Violência Doméstica

 

Durante o mês de agosto, quando ganha força a campanha nacional de enfrentamento à violência contra a mulher – o “Agosto Lilás” – a neuropsicóloga Tatiana Assunção chama atenção para formas sutis e muitas vezes invisíveis de violência doméstica, que deixam marcas profundas, ainda que silenciosas. Segundo a especialista, o abuso psicológico, como críticas disfarçadas de brincadeiras, gaslighting e manipulações emocionais, pode ser tão ou mais devastador que a violência física.

Tatiana explica que muitos padrões de relacionamento abusivo são reproduzidos de forma inconsciente, enraizados na infância e reforçados em dinâmicas familiares disfuncionais. Crianças que crescem em ambientes violentos podem normalizar esse comportamento, carregando padrões tóxicos para suas relações adultas. “Entender essa cadeia é fundamental para romper o ciclo”, afirma.

Ela destaca ainda que o sofrimento emocional pode ter repercussões físicas, como dores crônicas, distúrbios do sono e transtornos psicológicos. “Há um caminho psíquico que transforma a dor emocional em sintomas físicos. O corpo também adoece quando a alma está ferida”, alerta. Os impactos também atingem as chamadas vítimas invisíveis – filhos, idosos e até animais –, que convivem com o agressor e absorvem silenciosamente os danos da violência.

A saúde mental das vítimas é gravemente comprometida, muitas vezes marcada por sentimento de culpa, medo e baixa autoestima. “O adoecimento psíquico é silencioso, e pode paralisar a vítima, impedindo-a de tomar decisões e buscar ajuda”, pontua a neuropsicóloga. Por isso, ela reforça a importância de redes de apoio afetivas e institucionais, além do acesso à terapia, como estratégias para reconstrução da autoestima e do protagonismo da vítima.

Tatiana também destaca os sinais de alerta que já aparecem no início de relações abusivas: controle disfarçado de zelo, ciúmes excessivos e isolamento. “Precisamos parar de romantizar o sofrimento em nome do amor. Amor de verdade não anula, não humilha, não machuca.”

No que diz respeito à prevenção, a especialista ressalta o papel da educação emocional na infância, ensinando às crianças como reconhecer comportamentos abusivos e desenvolver a capacidade de dizer “não” sem culpa. Pais atentos e emocionalmente disponíveis são essenciais na construção de filhos mais seguros. A forma como os adultos se relaciona entre si também é um espelho importante para os pequenos.

“A prevenção da violência começa em casa, com afeto, limites claros e exemplo de relações respeitosas”, defende Tatiana. Ela alerta ainda para os riscos da superproteção e da ausência de limites, que podem gerar crianças com baixa tolerância à frustração e comportamento agressivo.

Finalizando, a neuropsicóloga reforça que sair de um ciclo de violência exige coragem, mas também apoio e acolhimento. “A rede de apoio e o processo terapêutico têm papel decisivo na libertação, pois ajudam a vítima a reconstruir sua autoestima e entender que merece ser amada de forma saudável e segura.”

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