Cerco digital ao Brasil: retaliação dos EUA expõe avanço das big techs, aponta especialista em Direito e Tecnologia
Big techs ampliam influência geopolítica e colocam soberania digital dos países em risco
Com o recente anúncio de tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros ligados à cadeia digital, feito por Donald Trump, acendeu um alerta no meio jurídico e tecnológico. Para o auditor judicial com atuação nos Tribunais Superiores (TRF2/RJ e STJ/STF). Sthefano Scalon Cruvinel, CEO da EvidJuri, a medida vai além de uma reação pontual ou de alinhamentos políticos com aliados brasileiros como Bolsonaro: trata-se de uma retaliação estratégica que escancara um novo tipo de colonialismo — o colonialismo algorítmico.
De acordo com o especialista, as grandes corporações digitais, as chamadas big techs, vêm exercendo poder político e econômico que ultrapassa fronteiras e desafia a autoridade de Estados soberanos. “Hoje, decisões que antes cabiam a parlamentos e tribunais estão sendo condicionadas por interesses de empresas que controlam a infraestrutura digital global”, afirma Cruvinel.
Para ele, países que tentam estabelecer regras claras e democráticas para o ambiente digital, como o Brasil, têm enfrentado pressões diplomáticas, instabilidade comercial e tentativas de intimidação indiretas por parte de conglomerados transnacionais. “A chantagem agora é digital. E a consequência imediata é a perda da autonomia sobre decisões estratégicas nacionais”, diz.
O cenário afeta diretamente o ecossistema de inovação brasileiro. Startups são sufocadas por modelos predatórios, exportadores enfrentam insegurança jurídica e empresas locais operam em desvantagem competitiva frente de gigantes digitais que atuam sob mínima ou nenhuma regulação efetiva.
Segundo Cruvinel, essa disputa não é apenas econômica — é política, jurídica e cultural. “Está em jogo quem define as regras do jogo digital. Quem controla o fluxo de dados, quem decide o que pode ou não ser dito, vendido, investido. É um embate entre o interesse coletivo e o poder corporativo globalizado.”
O especialista defende uma atuação conjunta entre os países do Sul Global, com cooperação internacional, marcos regulatórios sólidos e resposta diplomática firme às investidas que coloquem em xeque a soberania nacional. Para ele, a grande encruzilhada do século XXI será entre aceitar imposições de plataformas privadas ou lutar para preservar o controle democrático sobre o próprio território digital.
“O mundo vive uma fusão silenciosa entre poder corporativo e influência geopolítica. Se os países não reagirem com estratégia e coragem, correm o risco de se tornarem reféns digitais — sem voz, sem controle e sem alternativas”, alerta.
Apenas como exemplo, cita-se a gigante de tecnologia SAP, empresa alemã responsável por processar cerca de 75% do PIB mundial e por suportar 87% do comércio global em suas plataformas. Portanto, as big techs, assim como SAP, Oracle, Microsoft, Siemens e TOTVS controlam infraestruturas críticas que sustentam o funcionamento da economia global.
Esse domínio tecnológico cria um cenário em que poucos conglomerados detêm a capacidade de influenciar fluxos comerciais, políticas públicas e até a soberania digital de países inteiros.