Emater-RN inicia ciclo de seminários para marcar seus 65 anos

Com o tema “Desafios da agricultura familiar no semiárido: limites e possibilidades da agricultura familiar”, a Emater-RN iniciou hoje (16) uma série de seminários virtuais (webinars) para marcar os seus 65 anos de atividades.

O primeiro encontro virtual, transmitido esta manhã pelo canal da Emater no Youtube, teve a participação de especialistas em agricultura familiar no Rio Grande do Norte, como o professor da UFRN Roberto Marinho, do coordenador regional da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Alexandre Henrique Pires; da agricultora familiar Ana Aline Morais, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do RN (Fetarn); e do extensionista rural da Emater-RN, Victor Hugo Dias. A coordenação do seminário foi feita pelo titular da Sedraf, Alexandre Lima, e posteriormente, pelo extensionista Klediógenes Nóbrega.

“A agricultura familiar no semiárido consegue produzir”, disse o professor da UFRN, Roberto Marinho. Ele apresentou um diagnóstico sobre a atividade e um perfil dos seus protagonistas. A maioria (51,1%) tem mais de 55 anos de idade e é alfabetizada (57,6%). Além disso, 98,2% dos estabelecimentos rurais possui produção agrícola, de um total de 63.452, segundo o Censo Agropecuário do IBGE de 2017.

Entre as maiores dificuldades do setor, estão a perda ou redução da produção em decorrência da estiagem, perda de animais, de recursos financeiros, ambientais, poluição dos mananciais, entre outros. Para uma agricultura familiar fortalecida no futuro, Roberto Marinho citou a assistência técnica como um dos pilares, ao lado do acesso à terra, à água, segurança alimentar, crédito, seguridade social, agroecologia, tecnologias sociais, entre outros fatores.

Segundo o coordenador regional da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Alexandre Henrique Pires, “estamos presenciando uma aceleração da crise climática, gerada por um modelo de agricultura industrial, insustentável, que contribui com uma geração de energia muito dependente de combustíveis fósseis e extremamente poluente”, comentou.

Ele citou também o aumento dos preços dos alimentos em decorrência da crise política e econômica global, problemas ampliados com o contexto da pandemia, além de conflitos no campo, apropriação dos recursos pelo agronegócio, atingindo comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas. A liberação de produtos químicos e uso de agrotóxicos é outro problema em destaque.

“Mesmo assim, 77% dos estabelecimentos rurais no país são da agricultura familiar. O setor é responsável por 23% do PIB da agricultura, mas é o que menos recebe recursos e dispõe de menos terras para a produção. É a agricultura familiar a principal responsável pela produção de alimentos e a que mantém 67% dos postos de trabalho no campo”, disse Alexandre.

MOVIMENTOS SOCIAIS – Nascida na comunidade Barra da Espingarda, em Caicó, filha e neta de agricultores, Ana Aline Morais recordou sua trajetória enquanto mulher rural. Atualmente, ela é vice-presidente da Fetarn e secretária de políticas sociais.

O campo é onde ela quer ficar. “A propaganda para os jovens saírem do campo e irem para a cidade é muito grande, mas não desisti. É muito gratificante para quem gosta e valoriza, devemos ter orgulho de nossas origens”.

Em 2007, entrou no sindicato como associada. Em 2009, foi convidada a compor uma chapa como vice-coordenadora de jovens e não parou mais de se envolver nos movimentos sociais. “Comecei a conhecer as políticas públicas, sou defensora das compras governamentais, principalmente às que atendem as mulheres”. Ana Aline cita esse segmento como as maiores oportunidades para a agricultura familiar atualmente. Entre os exemplos, estão o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), executado pela Emater-RN, e o Programa Estadual de Compras da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Pecafes), da Sedraf.

“Para uma mulher jovem, estar no campo hoje impõe alguns limites. No semiárido falta muito acesso à terra. Quando o jovem quer inovar na propriedade da família, encontra resistência dos mais velhos. Falta incentivo à sucessão rural e a população do campo está ficando idosa. Quem vai alimentar a população sem a sucessão rural?”, sentenciou.

INOVAÇÃO – Victor Hugo, engenheiro agrônomo da Emater, apresentou um estudo de caso de sucesso realizado em Mossoró durante a pandemia. Com a participação da Emater no município, a Associação dos Produtores Orgânicos Familiares de Mossoró (Aprofam) ganhou novo impulso durante a maior crise sanitária do século e a incerteza de como escoar a sua produção.

Fundada há 13 anos, a Aprofam vinha num crescente número de associados e atuação, mantendo 36 famílias, envolvendo 17 comunidades rurais, 13 assentamentos e quatro comunidades tradicionais. Antes da pandemia, atuava em seis feiras semanais, com faturamento mensal de R$ 20 mil.

Com a pandemia, as famílias se depararam com uma alta produção e as incertezas de como conseguir vender esses produtos. O trabalho da extensão rural garantiu a eles uma reposta rápida na resolução desse problema. “Juntos com a Uern, criamos uma ferramenta digital, o Vendizap. Com o aplicativo, eles começaram as entregas por delivery na zona urbana de Mossoró”, citou Victor Hugo.

Foi criada uma vitrine virtual para mostrar os produtos da Aprofam e de outros parceiros, com nichos diferentes. Mesmo tendo reduzido o número de feiras, atendendo em apenas uma de forma presencial, a Aprofam aumentou o seu faturamento mensal em 40%, hoje calculado em R$ 28 mil.

HISTÓRIA – O diretor-geral da Emater, Cesar Oliveira, fez um histórico sobre o início dos serviços de extensão rural no estado, através da Associação Nordestina de Crédito e Assistência Rural (Ancar) em 1955. Na época, recebeu o apoio do Banco do Nordeste e da Igreja, por meio do Serviço de Assistência Rural (SAR) e de professores e professoras da. Os primeiros municípios a ter esses serviços no estado foram Santa Cruz, São Paulo do Potengi e São Tomé.

A nomenclatura Emater passou a vigorar há 45 anos, com a aprovação de Lei 4.484, de 23 de setembro de 1975, publicada no dia 03/10/1975. “Ao longo dessa trajetória, a Emater teve uma contribuição significativa fundamental para o desenvolvimento rural no Rio Grande do Norte, sendo nas últimas décadas, muito fortemente, ligada à agricultura familiar”, destacou Cesar Oliveira.