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Entenda por que os Rolling Stones pararam de tocar ‘Brown sugar’ nos shows em 2021

Segunda música mais tocada em shows do grupo, obra é interpretada como racista e machista por alguns; Mick Jagger e Keith Richards negam polêmica: ‘Espero que sejamos capazes de ressuscitar a glória dessa canção’
Os Rolling Stones, em 2016, com Mick Jagger (à esquerda), Charlie Watts, Keith Richards e Ron Wood Foto: PABLO PORCIUNCULA / AFP
Os Rolling Stones, em 2016, com Mick Jagger (à esquerda), Charlie Watts, Keith Richards e Ron Wood Foto: PABLO PORCIUNCULA / AF
Segunda música mais tocada pela banda Rolling Stones — atrás apenas de “Jumpin’ Jack Flash”, de acordo com o portal Setlist Fm —, o hit “Brown sugar” foi retirado, pela primeira vez, do repertório do grupo desde que a canção foi lançada, há 52 anos.

Com alusão a sexo, drogas e escravidão, a letra não está sendo apresentada nos shows da atual turnê que os Rolling Stones fazem nos Estados Unidos. Diante da ausência da música, que costumava gerar os momentos de maior empolgação entre o público, fãs especulam que o fato tem a ver com um suposto conteúdo racista e machista da obra. Os músicos, no entanto, não confirmam a informação.

“Brown sugar” (“açúcar mascavo”, em tradução literal) seria uma referência às mulheres negras que foram escravizadas nos EUA. A letra dá voz a um homem que fala de uma mulher negra, o que, apesar do tom de condenação da escravidão na obra, há quem interprete como um tom de objeto sexual. O refrão diz: “Açúcar mascavo, você é tão saborosa”.

Em outro trecho, logo no início da canção, um traficante de escravos, criticado na letra, chicoteia uma das escravas. O termo “whip” (“chicotear”, em inglês) já não era cantado pelo grupo há alguns anos. Vale lembrar que, nos EUA, “brown sugar” também é uma expressão que designa a droga heroína.

— Você percebeu isso aí, é? (Que paramos de tocar a música “Brown sugar”). Não sei. Estou tentando descobrir onde está o problema — respondeu o cantor e guitarrista Keith Richards ao jornal “Los Angeles Times”, quando perguntado sobre a omissão da letra na turnê nos EUA. — Não entendem que a música é sobre os horrores da escravidão? Estão tentando enterrar isso.

Keith Richards acrescentou ainda que, neste momento, não quer “entrar em conflitos sobre essa porcaria”:

— Mas espero que sejamos capazes de ressuscitar a glória da nossa “Brown sugar” — pontuou.

Para Mick Jagger, a ausência da música do repertório dos últimos shows do grupo se deve apenas ao fato de “tocarmos essa música todas as noites, desde 1970”, como ele afirmou, também para o “Los Angeles Times”.

— Às vezes simplesmente pensamos: ‘Vamos tirar essa música do repertório e ver como acontece o show”. Podemos voltar a inclui-la (nas apresentações) — afirmou o vocalista.

Vale lembrar que, em 1995, numa entrevista para o editor Jann Wenner, um dos cofundadores da revista “Rolling Stone”, Jagger havia reconhecido que “não escreveria essa música (‘Brown sugar’) agora”.

“Provavelmente me autocensuraria. Pensaria que não poderia passar daquele ponto, e que não poderia escrever algo rude daquele jeito”, ressaltou Jagger, à época. Apesar da opinião autocrítica, o cantor seguiu inflamando plateias mundo afora com o hit, menos na China, onde o governo censurou, mais recentemente, a inclusão de determinadas músicas em shows do grupo por lá — além de “Brown sugar”, canções como “Beast of burden” e “Honky Tonk Woman” foram proibidas.

“Brown sugar”, aliás, não é a única letra dos Rolling Stones com conteúdo questionável. A estofre de “Some girls”, de 1978, diz que “black girls just wanna get fucked all night” (“garotas negras só querem ser fodidas a noite inteira”, em tradução para o português). O trecho não foi cantado pela banda na última vez que o grupo apresentou a música.

Algo parecido aconteceu no longíquo ano de 1967, quando os Rolling Stones transformaram a canção “Let’s spend the night together” em “Let’s spend some time together”, durante a apresentação num programa de TV americano.

Fonte: globo